ENTRETERIMENTO

Olá a todos! É com grande satisfação que começo essa coluna sobre composição, que espero ser muito útil a todos. Acredito que, acima de qualquer informação teórica ou técnica a respeito do assunto – que serão obviamente tratadas – o mais importante é a troca de experiências que podemos realizar aqui, e é partindo desse foco que vou tratar esse primeiro texto.

No que já tive oportunidade de observar no meio musical, o campo da composição musical é tratado, muitas vezes, com a mesma espécie de ‘misticismo’ que envolvem os chamados músicos virtuoses. Nesse sentido, ouve-se muito dizer a respeito de dom, como se a habilidade de compor ou de ser exímio em um instrumento estivesse estritamente relacionada a fatores genéticos ou divinos.

Antes de tudo, é preciso desmistificar. Mesmo pessoas que possuem grande facilidade para compor começaram um dia, de alguma forma, e foram aprimorando sua técnica de composição com o tempo. Mas a pergunta crucial para quem nunca tentou compor é: por onde começar?

Pensando nisso, selecionei algumas dicas para quem pretende se aventurar nesse universo e, na hora de dar início, acaba esbarrando na pergunta acima. As dicas não possuem necessariamente nenhum fundamento estatístico, são baseadas em minhas próprias dificuldades e em bate-papos que já tive oportunidade de ter com outros amigos compositores. Não te tratam de regras, até porque como veremos no passar do tempo, quem determina se existem ou não regras é o próprio compositor.

O que vem primeiro: letra, melodia, harmonia ou ritmo? 

Essa é uma dúvida que já observei em muitas pessoas que começam a compor. A verdade é que o estopim inicial do processo criativo de uma canção pode se dar a partir de qualquer um desses elementos: os versos de uma letra, por exemplo, podem sugerir contornos melódicos; sua temática pode sugerir uma tonalidade (ou a ausência dela); e a métrica dos versos pode sugerir um ritmo. De outra forma, uma melodia já pode sugerir logo de cara uma situação tonal ou atonal, e sua métrica também já pode definir um ritmo e tipos de palavras ou frases que nela se encaixam.

O que acontece, com o passar do tempo, é que cada compositor tende a se afeiçoar por uma forma de começar a canção e, posteriormente, desenvolvê-la – criando assim, a SUA forma própria de compor.

Não consigo ter idéias, ou não gosto das poucas que surgem: o que fazer? 

Se esta é a dúvida, seja bem vindo ao grupo dos compositores! Com certeza, isso acontece ou já aconteceu algum dia com qualquer compositor, mesmo os mais experientes.

Para começar, é importante não bloquear idéias, por pior que possam parecer inicialmente. Não pense na idéia como o que vai estar escrito em definitivo na composição, e sim como um caminho que vai levá-lo a concluí-la. Escreva todas as idéias que surgirem, procure lapidá-las e somente depois de encontrar as melhores opções, descarte as que não te agradam.

Se ainda assim as idéias parecerem sem originalidade ou entrarem num ciclo vicioso, busque matéria-prima para a inspiração. Leia novos livros, veja novos filmes ou peças de teatro, escute novas músicas. Esteja mais antenado a tudo o que está ao seu redor, procurando quebrar sua rotina e descobrir novas situações e sensações. Com isso, certamente outras idéias surgirão.

Ok, já tive algumas idéias legais. Como desenvolvê-las? 

Partindo das idéias esboçadas, podemos explorar todas as possibilidades de caminhos a seguir. Nesse momento, informação e criatividade agindo de forma combinada fazem toda a diferença, conforme abordado no item anterior. Podemos utilizar desde conceitos teóricos de composição até soluções inusitadas, baseadas em intuição.

De uma forma ou de outra, é importante não ter pressa de finalizar a canção: algumas demoram horas, outras meses ou até anos pra acabar. Ás vezes, a diferença entre fazer uma canção boa ou ruim pode estar na sabedoria em respeitar esse tempo.

Buscar parceiros para compor também pode ser uma boa alternativa. Se está tendo dificuldades com letra, procure um amigo que escreve bem, ou vice-versa. Isso pode levar a composição para caminhos muito interessantes.

Finalizando... 

Depois dessas etapas, é muito provável que você tenha um esboço quase definitivo da canção. Pode ser que você esteja satisfeito com o resultado – o que é ótimo! – mas pode ser que, ainda assim, você não tenha gostado da canção.

Se isso aconteceu, procure não ter preconceito ou pudor de fazer testes: aquela melodia que parece uma baladinha melosa pode esconder um reggae bem legal. Mude a tonalidade da música, faça brincadeiras com ela. Você pode se surpreender.

Cuidado também com sua auto-crítica. Se você espera compor como um Chico Buarque, é muito provável que você se sinta frustrado, por um motivo muito simples: você não é o Chico Buarque! Procure evitar expectativas e padrões de comparação desse tipo, analisando a composição em si.

Mas se ainda assim você acha que a música está uma droga, não se preocupe. O mais importante de todo esse processo é que você desenvolva confiança na sua capacidade de criar, sabendo que para fazer boas composições, infelizmente temos que passar também pelas ruins. Considere como parte do seu aprendizado, coloque a música na gaveta e siga em frente!





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